terça-feira, 13 de julho de 2010

31 de Maio, 1938


Tive uma noite melhor e levantei ainda mais cedo, totalmente disposto. O dia estava novamente escuro, mas percebi a ausência do frio. Uma corrente de ar agradável percorreu cada extensão do meu corpo assim que abri a janela.
Em pouco tempo estava vestido e já caminhava em direção ao lugar combinado.
É incrível a maneira como nos lembramos de Deus nesses momentos. Agradecemos por tudo, damos os devidos reconhecimentos por sua magnitude. Fiz uma breve oração reconhecendo sua bondade em apresentar – me àquele ser, supliquei nunca perdê –la de vista, e, como em resposta imediata ao meus devaneios, ela surgiu no mesmo lugar de sempre.
Era impossível não sentir uma agonizante reviravolta no estômago sempre que a via, e hoje foi ainda pior de controlar.
Fiquei assustado com a forma que Victoire estava ainda mais bonita que o normal. Um vestido branco de tecido leve lhe cobria o corpo, usava uma sandália de salto presa aos pés por tiras finíssimas. Não fiquei surpreso ao ver suas unhas sem nenhuma cor. Enquanto outras moças adoram colorir as unhas dos pés de vermelho, era previsível que ela se opusesse a esse costume. E, completando a imagem de anjo, os cabelos louros estavam levemente presos por uma fita.
“- Oh Deus! Você é linda.” Não percebi quando disse isso.
“- Obrigada.” E, desviando os olhos em resposta a meu elogio, ela sorrio.
“- Hoje terei o prazer de saber sobre vossa pessoa?”
“- Depende do que você quer saber. E fique o recado; eu respondo quando achar conveniente.” Ela me olhou, sorrindo novamente.
Certamente em outra ocasião, aquela resposta teria me desconcertado, mas diante dela, minha única reação foi sorrir em resposta.
Enquanto caminhávamos pelo pequeno trecho em direção à praça, ela acendeu o cigarro e cantarolou uma música. Tentei captar o som, mas fui incapaz.
Chegando ao destino fiquei surpreendido com a intensidade do verde nas árvores. Os primeiros raios de sol àquela altura da manhã haviam perfurado os muros protetores da folhas, o contraste da luz na vegetação era indescritível. Uma espécie de reflexo dourado era emitido em todas as direções.
Nos sentamos e a conversa imediatamente fluiu de maneira agradável. Não foi exatamente o que esperava. Novamente ela se apoderou de todas as perguntas. Em raros momentos fui capaz de encontrar oportunidade para lhe indagar sobre algum assunto. Talvez por terem sido perguntas simples, ela não encontrou resistência em respondê – las , e, quando achava que seria o meu momento, ela iniciava uma nova rodada de interrogações.
Perguntou sobre meu trabalho cuidando dos negócios do Senhor de S..., sobre minha família, antigos romances, e ficou realmente surpresa com minha falta de experiência.
Fui surpreendido novamente quando ela disse que teria de partir.
De modo geral, consegui saber que ela adora literatura e recital de piano.
Minha cabeça está nas nuvens. Não consigo me concentrar em nada. Hoje o Senhor de S... ralhou comigo, que tenho andado muito disperso.
Não tive nada a argumentar.
Mas não importa. Pensar em Victoire expulsou qualquer mágoa que aquele acontecido poderia ter causado.
No caminho de volta para casa comprei de uma senhora uma pequena quantidade de rosas. Acha que é muito cedo para isso?
Ah! Não importa. Tenho certeza que ela irá gostar.

31 de Maio, 1938

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