sábado, 3 de julho de 2010

10 de Maio, 1938

Caro Guilherme, estou lhe escrevendo depois de tanto tempo porque agora encontrei algo que realmente me faça gostar desse lugar.
E antes que você pense, não é uma biblioteca.
Ontem a vi pela primeira vez, foi assustador e indescrítvel a sensação que tive ao vê-la andando pela horla. Parecia um anjo rebelde.
Tentarei descrevê-la na certeza que não chegarei próximo da real magnitude daquele ser.
Não pude deixar de perceber a maneira distraída com que caminhava, enquanto os cabelos louros estavam soltos, um tanto desalinhados, não havia um único enfeite, e isso não a tornava menos delicada. Trajava um simples vestido azul perolado que esvoaçava à brisa fraca da manhã. Seu rosto surpreendente era de uma naturalidade encantadora. Enquanto outras mulheres do lugar adoram se pintar sempre que saem às ruas, esta me parecia uma exceção. Não havia nenhuma cor em seu rosto que não fosse natural. Seus olhos cor de mel, sua boca rosada e uma quantidade razoável de sardas pintando a superfícei de seu rosto me hipnotizaram durante um longo tempo.
Durante os minutos que a observei fiquei fascinado com a maneira elegante com que caminhava, e, mesmo enquanto acendia um cigarro e o tragava perdida em algum devaneio, não pude deixar de admirá-la ainda mais, mesmo aquele sendo um hábito do qual sempre fui contra.
Ah Guilherme! Fico feliz que não esteja aqui, não quero compartilhar aquela criatura com mais ninguém.
Volto a escrever-lhe o quanto antes.

 10 de Maio, 1938

Nenhum comentário:

Postar um comentário