domingo, 4 de julho de 2010

14 de Maio, 1938


 Guilherme, durante esses três dias, voltei ao lugar em que a vi pela primeira vez. Na manhã seguinte, confesso que sai sem nenhuma esperança, mas tinha um enorme desejo de estar ali, ao menos para poder recordar com clareza cada movimento registrado por meus olhos, mas para meu intenso deleite, após algum tempo lá estava ela. Meu coração palpitou descontroladamente, era a segunda vez que a via, não tinha nenhum conhecimento sobre sua personalidade e sequer sabia seu nome. Não consegui entender minha reação.
Caminhava de cabeça baixa, parecia murmurar alguma coisa, pude ver difusamente seus lábios se moverem.
Tentei me manter atento a cada passo, me senti obrigado a registrar tudo, sentindo medo de não poder ter a sorte de vê-la em outra oportunidade.
Por um breve momento tive um forte impulso de voltar para casa. Estava observando com tanto interesse uma jovem desconhecida, isso me parecia loucura, mas esse pensamento logo foi abandonado. Era impossível se manter lúcido enquanto observava aquela figura se movendo sob os primeiros raios da manhã.
Será que era de fato tão linda ou se apresentava divina apenas sob meu ponto de vista? Fiquei furioso e ao mesmo tempo aliviado à medida que alguns senhores passaram por ela e sequer olharam-na. Por um lado uma indignação explodiu em meu interior. Como eles poderiam não ter parado para admirá-la? Era algo ilógico em meus pensamentos. Mas por outro lado estava feliz, ela deveria ser apenas minha.
Nos dias seguintes voltei ao local, necessitava vê-la, e graças a Deus lá estava ela, plena em sua magnitude.
Tenho que llhe confessar, estou verdadeiramente feliz, pela primeira vez em quatro dias, hoje, ela olhou na minha direção, nossos olhos se encontraram. Senti minhas mãos tremerem vigorosamente. Devo ter ficado pálido naquele momento, mas acredito que ela não percebeu, aconteceu tudo muito rápido, mal percebi quando ela já tinha sumido por entre um grupo de jovens que vinham caminhando animados.
Espero voltar a escrever-lhe o mais rápido possível.
Abraço.

14 de maio, 1938

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