terça-feira, 6 de julho de 2010

29 de Maio, 1938


Guilherme, acabou de acontecer a melhor coisa da minha vida. Queria lhe escrever à noite, mas não consigo conter a euforia. Me perdoe se não entender a caligrafia, mas estou tremendo até o presente momento.
Tenho ido todos os dias pela manhã, fico sempre parado no mesmo lugar, esperando o momento que ela aparece na esquina.
Já decorei quase todos os seus movimentos, que entre nós, nunca muda. Ela sempre chega, olha para algum lugar qualquer, acende o cigarro, depois o joga fora e vai embora. Ao que percebi ela já deve ter essa rotina há algum tempo.
Enfim, voltando ao assunto. Queria realmente seguir seu conselho, mas travava uma luta interna, a simples idéia de cumprimentá-la era arrazadora.
Fiquei parado, parte do meu corpo tentando se mover mas o desespero me prendendo, intacto. Então o inacreditável aconteceu. Ela me olhou pela segunda vez em todos esses dias, e, naquele momento senti que afundara no chão. Ela desfez seu habitual trajeto e se dirigiu a mim. A princípio pensei que estivesse vendo algum conhecido naquela direção, cheguei a olhar para os lados, mas não havia ninguém, então ela se aproximou o suficiente e pude ouvi -la.
“- Não pude deixar de notar a sua presença nesse mesmo lugar há alguns dias.”
Havia um tom petulante em sua voz, mas isso a tornava ainda mais atraente, superando o que imaginara ouvir algum dia.
Engoli em seco, tentando esclarecer a mente, pisquei as pálpebras rapidamente tentando pensar em algo, então, em um fluído descontrolado respondi: “- Esse é realmente o melhor lugar para uma caminhada matinal... Não acha?”
Sua expressão seguinte me perturbou um pouco, parecia me conhecer há tempos quando sorriu de um jeito espontâneo “ – Você tem cigarro?” Ela se virou novamente para olhar a rua e as poucas pessoas que vinham caminhando àquela manhã.
Confesso que gaguejei, ela era descomunal vista com tanta proximidade. Respondi que aquilo não era meu hábito, e ela apenas sorriu. Meu Deus! Senti que minhas pernas ficaram levemente abaladas com aquela situação.
-“Hmmm... Como tenho percebido seu grande interesse por esse lugar, o que acha de caminharmos juntos amanhã, senhor....?” Ela continuava me olhando, interrogações emanando de seu belo semblante.
“- Andrew... Me chame apenas de Andrew. “
Ela simplesmente sorriu e se foi. Um acontecimento surreal. Tenho certa dificuldade em acreditar que isso realmente tenha acontecido, mas foi tudo tão palpável que acredito não ter sido um sonho. Fiquei ali parado, esperando que ela se virasse, queria acenar em despedida, mas ela não o fez. Demorei algum tempo até recuperar as forças nas pernas.
Espero que amanhã seja um dia perfeito, mas tenho medo que ela não apareça. Ficaria realmente infeliz. Enfim, estou ansioso.
Me deseje sorte.
Escreverei contando tudo assim que chegar em casa.

29 de maio, 1938

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